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domingo, outubro 22, 2006

:-)


Eduardo Prado Coelho: Professores

O umbigo da Ministra da Educação deve ser tão GRANDE
que não a deixa ver/ouvir opiniões diferentes da sua.
Há qualquer coisa que não está a funcionar bem no
Ministério da Educação. Existe uma determinação em
abstracto do que se deve fazer, mas compreensão muito
escassa da realidade concreta. O que se passa com o
ensino do Português e a aprendizagem dos textos
literários é escandaloso.
Onde deveria haver sensibilidade, finura e
inteligência na compreensão da literatura, há apenas
testes de resposta múltipla completamente absurdos.
Assim não há literatura que resista. Há tempos, dei o
exemplo da regulamentação por minutos e distâncias de
determinadas provas.O ministério respondeu-me que se
baseavam na mais actualizada bibliografia e que tinham
tido reacções entusiásticas
perante tão inovadoras medidas. Não me convenceram
minimamente. Trata-se de dispositivos ridículos e
hilariantes, que provocam o mais elementar bom senso.

O problema reside em considerar os professores como
meros funcionários públicos e colocá-los na escola em
sumária situação de bombeiros prontos para ocorrer à
sineta de alarme. Mas a multiplicação de reuniões
sobre tudo e mais alguma coisa não permite que o
professor prossiga na sua formação científica.

Quando poderá ler, quando poderá trabalhar, quando
poderá actualizar-se? Não é certamente nas escolas que
existem condições para isso. Embora na faculdade eu
tivesse um gabinete, sempre partilhado com mais quatro
ou cinco pessoas, nunca consegui ler mais do que uma
página seguida.
Não existem condições de concentração. Pelo caminho
que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma
barbarização dos professores cada vez mais
desmotivados, cuja única obsessão passa a ser
defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis
palavrões que ouvem à sua volta. A escola
transforma-se num espaço de batalha campal, com o
apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que
os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a
cumplicidade dos pedagogos do ministério.

Quando precisaríamos como de pão para a boca de um
ensino sólido, estamos a criar uma escola tonta e
insensata.

Neste benemérita tarefa tem-se destacado o secretário
de Estado Valter Lemos. É certo que a personagem se
diz e desdiz, avança e volta atrás com a maior das
facilidades. Mas o caminho para onde parece querer
avançar é o de uma hostilização e incompreensão
sistemática da classe dos professores.Com isto
prejudica o país, e prejudica o Governo, com um
primeiro-ministro determinado e competente, mas que
não pode estar atento a todos os pormenores. E
prejudica o PS, mas não sei se isto preocupa. Vem
agora dizer que o professor deve avisar previamente
que vai faltar, o que no limite significa que eu
prevejo com alguns dias de antecedência a dor de
dentes ou a crise de fígado que vou ter. E que deve
dar o plano da aula que poria em prática caso
estivesse em condições. Donde, as matérias são
totalmente independentes de quem as ensina, basta
pegar no manual, e ala que se faz tarde.Começa a
tornar-se urgente uma remodelação do Governo, mas isso
é tema delicado a que voltarei mais tarde.

Professor universitário, Eduardo Prado Coelho

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