
Eduardo Prado Coelho: Professores
       O umbigo da Ministra da Educação deve ser tão GRANDE
       que não a deixa ver/ouvir opiniões diferentes da sua.
       Há qualquer coisa que não está a funcionar bem no
       Ministério da Educação. Existe uma determinação em
       abstracto do que se deve fazer, mas compreensão muito
       escassa da realidade concreta. O que se passa com o
       ensino do Português e a aprendizagem dos textos
       literários é escandaloso.
       Onde deveria haver sensibilidade, finura e
       inteligência na compreensão da literatura, há apenas
       testes de resposta múltipla completamente absurdos.
       Assim não há literatura que resista. Há tempos, dei o
       exemplo da regulamentação por minutos e distâncias de
       determinadas provas.O ministério respondeu-me que se
       baseavam na mais actualizada bibliografia e que tinham
       tido reacções entusiásticas
       perante tão inovadoras medidas. Não me convenceram
       minimamente. Trata-se de dispositivos ridículos e
       hilariantes, que provocam o mais elementar bom senso.
       O problema reside em considerar os professores como
       meros funcionários públicos e colocá-los na escola em
       sumária situação de bombeiros prontos para ocorrer à
       sineta de alarme. Mas a multiplicação de reuniões
       sobre tudo e mais alguma coisa não permite que o
       professor prossiga na sua formação científica.
       Quando poderá ler, quando poderá trabalhar, quando
       poderá actualizar-se? Não é certamente nas escolas que
       existem condições para isso. Embora na faculdade eu
       tivesse um gabinete, sempre partilhado com mais quatro
       ou cinco pessoas, nunca consegui ler mais do que uma
       página seguida.
       Não existem condições de concentração. Pelo caminho
       que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma
       barbarização dos professores cada vez mais
       desmotivados, cuja única obsessão passa a ser
       defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis
       palavrões que ouvem à sua volta. A escola
       transforma-se num espaço de batalha campal, com o
       apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que
       os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a
       cumplicidade dos pedagogos do ministério.
       Quando precisaríamos como de pão para a boca de um
       ensino sólido, estamos a criar uma escola tonta e
       insensata.
       Neste benemérita tarefa tem-se destacado o secretário
       de Estado Valter Lemos. É certo que a personagem se
       diz e desdiz, avança e volta atrás com a maior das
       facilidades. Mas o caminho para onde parece querer
       avançar é o de uma hostilização e incompreensão
       sistemática da classe dos professores.Com isto
       prejudica o país, e prejudica o Governo, com um
       primeiro-ministro determinado e competente, mas que
       não pode estar atento a todos os pormenores. E
       prejudica o PS, mas não sei se isto preocupa. Vem
       agora dizer que o professor deve avisar previamente
       que vai faltar, o que no limite significa que eu
       prevejo com alguns dias de antecedência a dor de
       dentes ou a crise de fígado que vou ter. E que deve
       dar o plano da aula que poria em prática caso
       estivesse em condições. Donde, as matérias são
       totalmente independentes de quem as ensina, basta
       pegar no manual, e ala que se faz tarde.Começa a
       tornar-se urgente uma remodelação do Governo, mas isso
       é tema delicado a que voltarei mais tarde.
       Professor universitário, Eduardo Prado Coelho
domingo, outubro 22, 2006
:-)
Postado por
JuFlores
às
9:24 da tarde
 
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